Super Size Me 2: as mazelas do Estado mínimo

Débora M. H.
3 min readOct 27, 2020

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Cansado demais para tomar decisões inteligentes ou preso a um regime que toma todas as decisões por você. Azul ou vermelha, Neo?

Super Size Me 2 trouxe à tona meu dilema político mais antigo: capitalismo ou socialismo? Um dia quase acreditei no segundo, mesmo depois das aulas de história e de ter lido A Revolução dos Bichos.

Quase. Na verdade, minha fé residia mais em construir um mundo justo, com oportunidades iguais para todos. No fundo ela não mudou de lá pra cá, apenas passei a depositá-la no extremo oeste do mundo.

O tão sonhado Estado mínimo. Sem burocracias fraudulentas e cansativas, estruturas ineficientes e salários escandalosos. Liberdade para cuidar do próprio nariz como bem entender e condições para levar isso adiante sem ficar à beira da falência.

Parecia um sonho e eu estava pronta para votar por isso nas eleições que estão quase ali na frente. Mas aí fui sentar no sofá e assistir a esse brilhante documentário do Morgan Spurlock e… Holy Chicken! Foi como acordar de um sonho no paraíso.

Sim, eu sempre soube das estratégias de marketing usadas pelas grandes redes de fast food para criarem essa aura de saúde ao redor de seus produtos (health halo é a expressão usada no filme). Não é como se pudesse me fazer de idiota trabalhando com marketing há tantos anos.

E mesmo quem não trabalha consegue perceber o nariz de palhaço assim que bota o olho num lanche desses. Mas essa vida de trabalho que aumenta mais a cada dia sem trazer uma recompensa equivalente deixa as pessoas cansadas. E neurônios cansados não raciocinam muito bem.

Não gosto de McDonald’s e afins. Ultimamente tenho preferido a honestidade do X da esquina, que não tenta me enganar com embalagens bonitas. Se é para engordar, que seja com dignidade.Enfim, meu problema não foram bem as grandes redes, embora a omissão do governo em fiscalizar essa propaganda pra lá de enganosa irrite. No fim das contas, temos escolha, mesmo em meio a tanta manipulação.

Photo by William Moreland on Unsplash

A luz acendeu quando vi a situação dos granjeiros, presos aos grandes produtores do setor, que dominam a cadeia produtiva. Não me leve a mal, gosto dos EUA, mas aquela quantidade absurda de outdoors de advogados sempre me deixou com um pé atrás.

Como um país que se diz a terra da liberdade pode permitir a competição desleal promovida entre eles?

Lucro máximo para Wall Street, às custas de granjeiros enganados e consumidores apáticos. No fim, o Estado mínimo também cobra sua conta.

E como transformar o Brasil em um país mais próspero e justo, senão reduzindo a presença do governo em áreas onde ele visivelmente tem uma atuação ruim?

Saúde, educação, economia: não há uma área sequer que escape das trapalhadas de nosso enorme elefante branco. Menos Governo é necessário, mas, ao mesmo tempo, nos coloca nas mãos de pessoas que visam o lucro acima de qualquer coisa.

Não quero usar o termo “empresários” porque seria injusto com a maior parte deles. Gente íntegra, trabalhadora e corajosa. Porque é preciso coragem para abrir um negócio em terras tupiniquins. Mas infelizmente maçãs podres e poderosas estragam o que seria a receita para uma vida livre e feliz.

Desalento. É o que sinto quando penso em votar nas próximas eleições. No fim das contas, tudo (TUDO) o que precisamos é de seres humanos melhores.

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Débora M. H.

A Brazilian living in Lisbon. Marina’s mom, marketing & data analysis, writing for love.