Recrutamento sem preconceito e os vieses de que somos feitos

Débora M. H.
2 min readOct 8, 2020

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Criar vagas exclusivas para determinados grupos é a única solução?

Photo by Yasin Yusuf on Unsplash

Grande empresa multinacional abre processo seletivo para contratação de profissionais com mais de 50 anos. Notícia boa: curto e sigo adiante.

Opa, peraí. Lembrei de outra empresa, também grande e que vocês talvez até conheçam melhor, que recentemente lançou programa de trainee exclusivo para pessoas negras.

E eu não curti.

Na hora, achei preconceito, outra forma de segregação. E porque quando se trata de pessoas mais velhas não seria? Caí em minha própria armadilha.

De quantos vieses somos feitos. Quantos permeiam as cabeças de gestores em empresas diversas. Está na moda, vocês sabem, parecer socialmente responsável e livre de preconceitos. É bonito ter equipes onde a diversidade é a lei, mesmo que seja só para mostrar nas fotos do instagram.

Sim, existem pessoas que realmente acreditam – o mundo é feito de gente boa também, ou já teríamos implodido. Mas, vocês sabem, ainda são poucas.

O resto ou acredita ser livre de preconceitos mas apenas não tem consciência deles (como eu), ou não tem um pingo de empatia.

Alguém diria que solução mesmo é dar ensino de qualidade, garantir saúde para todos (física e mental), moradia decente e, porque não, facilitar a abertura de novas empresas (para que todos tenham a possibilidade de empreender, sem a burocracia que exige dose extra de coragem ou muito dinheiro para começar).

Concordo. Mas, vai demorar, né?

Então, bora trabalhar nos processos seletivos! Agora, vamos combinar que restringir as vagas a este ou aquele grupo é uma solução fácil para as empresas, mas que gera, sim, revolta em parte da população?

Revolta que alimenta um certo instinto primitivo de preservação – aquele que bloqueia a entrada de novos integrantes no grupo para se proteger de novidades ameaçadoras. E aí ganhamos inclusão nas empresas e mais segregação fora delas.

Penso que um processo seletivo ideal seja aquele que protege recrutadores de seus vieses cognitivos. Sabem aquelas apresentações “às cegas” utilizadas em alguns concursos musicais, onde o cantor fica atrás de uma cortina e tudo que os jurados têm para avaliá-lo é a voz? Algo nessa linha, claro, com as devidas particularidades de um recrutamento.

Por exemplo, nome, gênero, idade e cor da pele poderiam ficar de fora das entrevistas com recrutadores e possíveis futuros gestores dos candidatos. Não é tão difícil quanto parece com a tecnologia que temos hoje. E o processo seria justo (além de bonito de mostrar no vídeo institucional da empresa).

Divaguei muito? Acredito que não. Nesse meio-tempo, contemos com processos seletivos que segregam para incluir, e outras ações semelhantes. Ainda que o propósito real seja apenas melhorar aquele gráfico mensal de vendas.

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Débora M. H.

A Brazilian living in Lisbon. Marina’s mom, marketing & data analysis, writing for love.