Novo normal, o Prozac da pandemia

Débora M. H.
2 min readJul 28, 2020

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Não há nome bonito que nos livre desse caos

Photo by Agustin Fernandez on Unsplash

Eu já falei aqui sobre o lado bom dessa maluquice toda (leia-se: pandemia), e continuo achando que ele existe. Mesmo assim, todo mundo cansa um dia. Até o sagitariano mais otimista do universo há de concordar comigo. Quem em sã consciência pensou que chamar essa ficção científica barata de “novo normal” resolveria as coisas?

Recuso-me terminantemente a acreditar que distância social, máscaras e álcool em gel serão a tônica do resto da minha vida. E pretendo ter uma vida longa. Normal. Daquelas em que a gente segue as regras, acaba com a ameaça da Covid-19 e volta a viver como ser humano.

Você liga a televisão e parece um bombardeio: “novo normal” isso, “novo normal” aquilo, vejam como é bela a vida no “novo normal”. Pílulas repetidas como se fossem grandes verdades. Porque audiência triste não faz compras e, sem consumo, quem vai pagar a conta?

Nome bonito nunca vai resolver o fato de que estamos longe das pessoas que amamos. Não podemos caminhar na praia, tomar um café com as amigas, levar os filhos no parque. Não há Prozac moderno que dê jeito nesse imbróglio.

O remédio* contra a Covid-19 é amargo, e precisamos tomá-lo. Agora, ficar vendendo por aí que ele tem gosto de tuti-fruti e vai trazer a felicidade suprema é chamar a gente de trouxa.

Ah, mas “novo normal” também significa que seremos mais conscientes, empáticos, preocupados com o meio ambiente. Sim. Uma parcela ligeiramente maior que a minoria de hoje vai acordar e perceber que existe vida neste planeta além do seu umbigo. Todo o resto mal consegue lavar as mãos, mesmo com um vírus mortal à solta por aí.

Mudança de verdade só acontece quando se decide enxergar as coisas como elas são. De cara lavada e peito aberto, sem anestesia.

* Não confunda com apologia à hidroxicloroquina. Deixo isso para você-sabe-quem.

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Débora M. H.

A Brazilian living in Lisbon. Marina’s mom, marketing & data analysis, writing for love.