Devemos chamar as pessoas de tóxicas?

Débora M. H.
4 min readMay 29, 2023

--

Tenho ouvido muito o termo “pessoa tóxica” ultimamente, sem ter certeza sobre o uso dessa expressão. É que, sempre que ela aparece, me vêm à mente algumas questões:

É correto rotular uma pessoa como tóxica?

Se uma pessoa visivelmente precisa de ajuda, recusar qualquer contato com ela não torna as coisas piores?

Como evoluo como ser humano se minha atitude em relação ao que me incomoda é o afastamento?

Photo by Jules D. on Unsplash

Há tempos aprendi que não entendo nada de gente. Nasci sem essa ferramenta, sinto muito. Tenho dificuldade em interpretar os outros e cometi erros crassos por pura inabilidade. Então, recorro à pesquisa sempre que possível.

Primeiro, perguntei aos amigos. Posso sintetizar as respostas que recebi em “pessoas tóxicas não reconhecem que precisam mudar” — quase uma unanimidade — e “o outro também tem o direito de não mudar”. Concordo. Mas ainda não é o bastante. Apelei ao Google.

Vamos começar do início: o que é uma pessoa tóxica?

A primeira coisa que chamou a atenção foi a quantidade de textos que usam o rótulo “pessoa tóxica” como se tratasse de um produto. Um objeto concreto e imutável, e não um ser humano com um cérebro e capacidade de aprendizado.

Segundo eles, o mundo se divide entre tóxicos e não tóxicos. Vilões e mocinhos. É perigoso pensar desta forma, concorda?

Agora, se ao invés de “pessoa tóxica”, falarmos em comportamentos tóxicos, podemos enxergar a situação sob um outro prisma. E colocar uma pitada de compaixão na história. A pessoa deixa de ser o “vilão” para tornar-se alguém que precisa de ajuda.

Outra vantagem desse tipo de raciocínio é que ela nos permite prestar atenção aos nossos comportamentos. E quem sabe até identificar o que em nós precisa mudar.

E o que são comportamentos tóxicos?

São atitudes que prejudicam ou impactam de forma negativa as vidas das pessoas ao redor. Elas podem ser conscientes ou inconscientes.

Se aprofundarmos o tema, veremos que o mais comum não é sermos vítimas de comportamentos tóxicos, e, sim, participarmos de dinâmicas tóxicas. Sermos dependentes diante de pessoas superprotetoras, ou criticarmos quem nos critica, por exemplo.

O primeiro passo para sair dessas dinâmicas é identificar as ações negativas que fazem parte delas. Eis as mais comuns:

1. Manipulação: mentir, distorcer a verdade, exagerar ou omitir informações para influenciar os outros em suas decisões;

2. Julgamento: criticar excessivamente e de forma destrutiva pode minar a autoestima e a confiança das pessoas ao seu redor;

3. Negatividade: concentrar-se nos aspectos negativos da vida e das situações, espalhando pessimismo e desânimo;

4. Falta de empatia: não demonstrar consideração pelos sentimentos e necessidades dos outros, colocando seus próprios interesses acima de tudo;

5. Controle excessivo: tentar controlar as ações e decisões dos outros pode sufocar a liberdade e a individualidade das pessoas;

6. Competição constante, ressentimento e sabotagem: podem ser gerados por sentimentos de ciúme e inveja;

7. Violência verbal ou emocional: expressar raiva, agressão verbal, insultos e humilhação;

8. Falta de responsabilidade pessoal: não assumir a responsabilidade por suas ações, culpando os outros ou as circunstâncias externas por seus problemas e falhas;

9. Desrespeito por limites: ignorar os limites estabelecidos pelos outros e invadir o espaço pessoal e emocional das pessoas;

10. Incapacidade de lidar com conflitos de forma saudável: evitar ou reprimir conflitos, ou lidar com eles de maneira agressiva, hostil ou manipuladora, ao invés de buscar soluções construtivas e respeitosas.

Mais dicas para sair de dinâmicas tóxicas

Depois de conhecer os comportamentos tóxicos, há outras ferramentas importantes para fugir desse tipo de situação e garantir a paz de espírito.

- Consciência (ou mindfullness): focar a atenção no agora. A maioria de nós concentra os pensamentos no passado ou no futuro, remoendo o que já aconteceu e tentando prever o que vai acontecer. Então, acabamos sendo reativos ao que acontece ao nosso redor. Quando estamos totalmente presentes, podemos identificar atitudes e pensamentos negativos e agir para que eles não nos dominem;

- Definir limites: comunicar de maneira clara e assertiva suas necessidades e expectativas;

- Aprender a dizer não: todos têm o direito de priorizar sua saúde e bem-estar, dizendo não a pessoas e situações que são prejudiciais;

- Distância emocional: o que os outros dizem ou fazem é sobre eles, não sobre você;

- Buscar orientação: busque apoio profissional quando não conseguir sair de uma dinâmica tóxica ou quando identificar comportamentos tóxicos em você mesmo. Livros, artigos e vídeos de autoajuda também podem ser úteis.

Se nada funcionar, afaste-se. Quando você não consegue lidar com uma pessoa que mantém comportamentos tóxicos, e sempre acaba saindo das interações confuso, irritado ou triste, afastar-se pode ser a melhor solução.

Uma última observação: mudar comportamentos ou distanciar-se de situações conflitantes às vezes leva tempo. Seja gentil com você mesmo.

Gostou do conteúdo? Assine e receba em primeira mão os artigos pelo link https://deboramh.medium.com/subscribe

--

--

Débora M. H.

A Brazilian living in Lisbon. Marina’s mom, marketing & data analysis, writing for love.